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Almir Zarfeg comenta “Palavra & Poesia”, livro do poeta e ator Jorge Ventura
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2 meses atrásem
Meninos e meninas, eu li num átimo “Palavra & Poesia” (Ventura Editora, 2018) de Jorge Ventura. Mas, depois, tive que fazer uma 2ª leitura do livro, com mais vagar e atenção, para compreender melhor a elaboração dos textos e as intenções do poeta.
Afinal, não se trata de um poeta qualquer nem de qualquer poeta, mas de um artista da palavra experimentado. Aliás, um artista duplo, uma vez que Jorge é poeta e também ator, apossando-se da palavra como criador (texto) e intérprete (voz).
Sabemos que a arte poética precedeu a arte teatral no tempo, mas nada impede que JV tenha mantido contato primeiro com o teatro e só depois com a poesia, ou vice-versa. Mas convém dizer que brilha nas duas expressões artísticas, que são diversas e, ao mesmo tempo, se complementam.
Fixemo-nos em Castro Alves, na 2ª metade do século XIX, recitando seus poemas de cunho político ou amoroso – com grande verve – para as plateias fascinadas daquela época. Sem dúvida, uma atração e tanto para se assistir e aplaudir. Mas fiquemos nisso, porque CA era um grande poeta e um declamador de mão cheia, mas não um ator.
(Quem teve a oportunidade de assistir a uma performance da poeta e atriz Elisa Lucinda sabe do que estou falando.)
Dito isso, voltemos o olhar para a obra “Palavra & Poesia”, que me chegou às mãos, autografada, por gentileza do autor.
À 1ª leitura, eu notei que tinha em mãos a equação “palavra + poesia”, para qual em poucos instantes já possuía a solução linguística (ou metalinguística): “palavra + poesia = poema”!
Em resumo, toda “palavra” é signo (significante + significado) prenhe de atrativos visual, sonoro e semântico. (Fanopeia, melopeia e logopeia, segundo Pound.) “Poesia” diz respeito a um tipo de linguagem – mais criativa que informativa – que é explorada à exaustão no texto literário, podendo ser um “poema”, num processo formal de maior ou menor grau de experimentação e complexidade.
Todo esse estranhamento, minha gente, foi provocado em mim pelo título da obra e, desde já, vocês podem imaginar o que viria com a leitura dos metapoemas, 45 (inclusive uma aldravia providencial), que compõem a pequena grande obra.
Mas consideremos os elementos pré-textuais, como se diz no jargão universitário. Na 1ª capa, o título da obra, o nome do autor e um rosto de perfil – moldado por palavras em negrito – se destacam sobre um fundo laranja. Um convite quente e irrecusável. Na 4ª capa, o metapoema “Papiro”, que, mais que um chamado à leitura, constitui um achado estilístico: “Papiro aberto sobre a mesa / rota de fuga no papel”.
A seguir, o prefácio assinado pela poeta e mestra em Literatura Brasileira pela UFRJ, Claudia Manzolillo, que explicita as intenções metapoéticas de JV como condição sine qua non para a elaboração de “Palavra & Poesia”.
Mais adiante, a epígrafe tomada de empréstimo ao poeta Tanussi Cardoso: “Toda palavra é vã e vão. Ainda que belamente perfeita”.
Por fim, eu dei por iniciada a leitura do livro com o poema “Origami”, que remite à arte milenar japonesa de dobrar pedaços de papel, para que assumam as formas mais diversas, como pássaros e objetos. Por analogia, diante das páginas em branco, o poeta se põe a dobrar textos e discursos, letras e versos, porque “toda palavra é obra pra muito além do poema”.
Já no poema de abertura, portanto, o poeta/ator não deixa dúvida de que veio para fazer e acontecer, tendo consciência de que é preciso criar para inovar, repetir para aprender, dialogando tanto com vanguarda quanto com tradição.
Disposto a explorar o poema visual e semanticamente, JV dá um show de práxis poética, explorando a fundo o texto, que não é outra coisa senão uma simbiose entre palavras/conceito (símbolos) e palavras/imagem (ícones), processando, assim, o lema concretista.
Que me valham Pound, Faustino, João Cabral, Manoel de Barros, Pessoa e Rimbaud, que ainda não consegui me desapegar do 1º metapoema!
Que me valha JV, a gentileza em pessoa, que preciso seguir caminho longo e pedregoso (ia grafar estiloso). Então, me ajudaria muito se o ilustre respondesse à trovíssima zarfeguiana:
Caro Jorge, por favor,
Me diga se, porVentura,
É possível ser ator
E poeta sem mistura?
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